• Boletim
  • Posts
  • Teresópolis e um Orquídea Perdida

Teresópolis e um Orquídea Perdida

Fique sabendo das últimas besteirinhas

GiFavetta
fique sabendo das ultimas

Olha se não é o Boletim chegando pra colorir sua caixa de entrada 

E cá estamos em Novembro!

Esse mês vos escrevo de uma curta passagem por São Paulo, enquanto organizo as coisas pra nosso próximo destino em Mangaratiba no Rio de Janeiro.

Na Boletim de Novembro temos texto duplo. No Diário de Viagem as andanças e impressões que tivemos sobre a simpática Teresópolis na serra do Rio e um texto sobre um causo que aconteceu há algum tempo junto há algumas reflexões sobre nossa geração.

Nas indicações trouxe um livro de fantasia do ganhador do Nobel de 2017 e uma série clássica, mas que segue boa depois de tantos anos.

Bora que vamo

rolando por aqui
uwu phone

UWU phone 4297 - Quando os celulares eram maneiros

tere

Um Mês de Descanso e Trilhas em Teresópolis

Depois de dois meses caóticos rodando por Minas Gerais seguimos nossa viagem para a cidade de Teresópolis, na região serrana do Rio de Janeiro.
novembro

Novembro | 25

O mês de Novembro é o mais legal pois é meu aniversário e traz o inicio da primavera.
O calendário de Novembro vem com um incentivo pra caminhar entre as flores

A versão wallpaper ou o calendário completo pra impressão no link→
groselhas

Um causo sobre um orquídea, uma casa velha e tudo o que perdemos como geração
Se quiser comentar ou ler na integra acesse o blog →

Uma orquídea perdida e um eterno pós festa geracional

orquidea

Dando um tempo por aqui dos relatos de viagem queria contar um causo que rolou quando nós ainda tínhamos algo como uma casa e que em parte fala muito das minhas razões de me tornar nômade.

Antes de começar o mochilão Mayke e eu moramos quase três anos em Bertioga no litoral de São Paulo. Nós alugávamos uma casa esquisita, era um casarão antigo que foi subdividido em quatro casas menores. O preço não era especialmente barato e sendo sincera a casa não estava nas melhores condições, além as instalações antigas e malconservadas uma umidade persistente e consequentemente um mofo maligno tomavam conta de tudo.

Porém, ainda assim eu amava aquele lugar, escolhi aquela casa porque ela fazia divisa com uma reserva florestal e tinha um quintal imenso, além uma ótima localização perto da praia e do Sesc. Então se por um lado passávamos nossos fins de semana limpando tudo em uma luta perdida tentando salvar nossas coisas do mofo, por outro nos intervalos do trabalho eu olhava os pássaros ou caminhava até a praia.

Eu adorava observar as plantas e as árvores do quintal, uma das minhas favoritas era uma orquídea que crescia em uma goiabeira. Ela era enorme, extremamente antiga, enchia de flores uma vez ao ano e tinha uma suculenta enveredada nas raízes que já passava de um metro de comprimento.

Era o mês de julho, eu sabia que estava próximo da orquídea dar flores novamente nos idos de agosto. Por uma sequência de fatos infelizes o dono da casa decidiu que era hora de reformar algumas áreas do terreno.

 Contextualizando, o dono era um senhor de uns 90 anos que se importava muito pouco com a casa, se quer cortava a grama e fazia apenas reformas paliativas há pelo menos 30 anos. Porém por conta das reclamações de um inquilino resolveu tomar uma atitude.

Aqui vocês podem imaginar que essa atitude seria consertar problemas reais como o portão que nunca fechou ou impermeabilizar as paredes pra diminuir a umidade. Mas não, ele não fez nada disso, chamou um pedreiro pra pintar a fachada e podar árvores, árvores estas que o Mayke já havia podado (da maneira certa e na época correta) há cerca de 6 meses.

E aqui começa um mês de calvário, nós trabalhamos em casa, então um mês de barulho, música alta e sujeira constante. Tudo pra obviamente não sanar nenhum dos problemas reais.

Até que um certo dia, depois de muita dor de cabeça eu saio pra ir na padaria, na volta casualmente olho em direção a orquídea e ela não estava lá. Sim o tal do pedreiro “podou as árvores” (lesse cortou aleatoriamente galhos com um facão) e sem nenhuma razão aparente achou certo arrancar a orquídea e jogar fora.

Eu entrei em casa consternada e comecei a chorar. Não aquele choro silencioso e triste, o choro vergonhoso e barulhento, feito criança, em uma torrente, sem parar.

Eu chorava pela orquídea, pra mim era como se alguém tivesse rasgado um Monet de milhões e jogado no lixo sem cerimônia.

Chorava pela falta de senso de alguém em jogar algo tão bonito no lixo.

Chorava pela impotência naquela situação toda, com gente estragando um lugar que eu amava e eu não podendo fazer nada.

Chorava por pensar no quão inacessível seria comprar um lugar daquele, um terreno enorme onde plantar quantas orquídeas quisesse.

Isso durou um bom tempo pra ser sincera, nisso descobrimos que o pedreiro jogou a orquídea junto o restante da poda do outro lado do muro. Um buraco de 5m em meio a mata fechada da reserva ambiental.

Mayke então pegou a escada da obra, pulou o muro e no meio da montanha de restos de poda e formigas puxou a orquídea com sua suculenta e jogou de volta no quintal. (Acho que era isso que queriam dizer quando falam que toda mulher gosta de ganhar flores).

Nós lavamos, jogamos veneno nas formigas e recuperamos o que pudemos dela. Era tão enorme que não tinha como amarrar em um tronco por exemplo, então fizemos uma “cama” suspensa com uma manta e um suporte de barbante.

No mês seguinte ela encheu de flor, como nunca antes, parecia até um agradecimento pelo salvamento, deu flores por meses a fio.


orquidea

Em fevereiro do ano seguinte nós embalamos nossas coisas e saímos de lá para viajar. A orquídea ficou na casa da mãe do Mayke que está cuidando de todas as nossas plantas enquanto viajamos. Ela sofreu com a mudança e as formigas não deram trégua, era tão grande que acabou sendo subdivida e vários brotos menores que apelidei de filhotes.

Eu contei essa história por que ela é um dos motivos que eu adiantei nosso mochilão. Veja bem, eu sempre quis conhecer o Brasil, é algo que eu sempre planejei e está sendo incrível ficar um pouco em cada estado, mas ao mesmo tempo eu sinto uma imensa falta de casa.

Quando saímos de Bertioga, enquanto desmontava minhas prateleiras, tirava as bandeiras das paredes e encaixotava os livros, precisei dar adeus pra todos os pássaros, lagartixas e aranhas. No caos da mudança eu prometi que não iria mais alugar outra casa, iria viajar até ter dinheiro suficiente pra dar entrada em algo meu e não, eu não quero um apartamento, mas uma casa de verdade, com árvores, grama, pássaros e sol.

É terrível pensar o quão inacessível esse sonho é hoje em dia, uma sina cruel deixada pra grande parte da nossa geração na forma da negação do um direito básico de ter um lugar próprio onde construir uma vida.

 Aluguel é uma eterna ilusão de pertencimento, mas que de fato não te pertence, não te permite construir e criar raízes, sempre no eterno medo de não poder pagar o mês seguinte ou de precisar procurar outro lugar de última hora.

Tenho a sensação de que chegamos nesse mundo em um grande fim de festa, o bolo já foi comido, sobraram poucos doces e precisamos nos contentar com o que deixaram para nós.

Enfim, decidi aproveitar o pouco que a tecnologia nos oferece frente a tudo que ela nos tira pra viajar. Usar o enorme privilégio do home office pra conhecer esse pais surreal que vivemos, ao menos enquanto ainda há o que se ver. Cada mês alugamos um Airbnb mobiliado, sem a falsa sensação de que ali é realmente casa.

Como diria Terry Pratchett

“Até voltarmos para casa não estivemos em lugar nenhum”. 

Sim, eu sempre quis viajar, mas existe uma dor em não ter pra onde voltar afinal.  Essa viagem está sendo incrível, mas ela só vai ter valido quando tivermos um lugar nosso pra espalhar nossas memórias, nossos livros e nossas orquídeas, onde quer que seja esse lugar.

o que ando
wonder years

Anos incríveis

Recentemente eu comecei a rever Anos Incríveis (Wonder Years). Não sei se rever é a palavra mais correta, a série passou na TV Cultura e em casa minha família assistia, mas eu ainda era muito pequena e não me lembrava de muita coisa além a abertura com “With a Help From my Friends” interpretada por Joe Cocker.

Gravada durante os anos 80/90 a história acompanha o protagonista Kevin Arnald, um jovem no começo da adolescência que cresceu no final dos anos 1960 com toda a euforia social e política do período. Ela é narrada pelo seu “eu” mais velho que analisa e comenta as histórias de sua juventude.

A parca memória que eu tinha da série era em um tom nostálgico, me lembrava de um clássico “coming age” sobre crescimento, cheio de memórias afetivas sobre os anos 60. E revendo eu vejo como o tom é muito diferente.

Provavelmente minha memória foi contaminada pelo mais recente Os Goldbergs que tem a mesma premissa (abertamente inspirada em Anos Incríveis), mas onde o cenário se isola totalmente do mundo exterior. Uma comédia simples que tem a nostalgia dos anos 80 como condutor e encara o crescimento de forma romântica.

Enquanto Wonder Years fala sobre amadurecimento, mas de um jeito amargo, muito distante da nostalgia. Aqui crescer é um eterno jogo entre a magia de novas descobertas e o luto pela mudança e pelo abandono de uma vida mais simples.

Além disso toda a série é pautada na sociedade dos anos 60, Kevin vê com o olhar infantil um mundo que passa por enormes transformações. O avanço tecnológico representado pela corrida espacial, em contraste com as dicotomias do mundo terreno com a guerra no Vietnã, protestos por direitos civis e os embates dos conservadores versus os estranhos jovens Hippies.

Até hoje segue sendo uma série atual e que merece ser revisitada.

Ela não tá disponível em nenhum streaming (completa só por meios obscuros), mas tem alguns eps no youtube
lendo
gigante enterrado
O Gigante Enterrado - Kazuo Ishiguro
Minha última leitura foi O Gigante Enterrado, um livro de fantasia escrito por Kazuo Ishiguro, o ganhador do Nobel em 2017 pelo livro Resíduos do Dia, lança sua primeira história no gênero fantástico.

Eu não sou exatamente fã de alta fantasia, porém o que me chamou a atenção nesse livro, além seu autor célebre foi a premissa incomum, que foge dos reis e rainhas de reinos mágicos.

Aqui acompanhamos dois idosos Beatrice e Axl, eles vivem em um pequeno vilarejo assolado por uma praga do esquecimento. Ninguém se lembra de seu passado, até mesmo acontecimentos recentes são engolidos por uma bruma densa. Um dia eles decidem que era hora de deixar aquele lugar e seguir rumo ao vilarejo de seu filho, que foi viver em um local distante há muitos anos.

A partir daí começamos a acompanhar esse casal em sua jornada, no caminho eles conhecem povoados e pessoas que os ajudam a entender o que aflige aquela terra.

A história, embora lenta, quase que acompanhando o passo do casal de idosos, se desenrola com inúmeras reviravoltas e flashbacks que explicam o passado do lugar. No final é um livro ousado que fala sobre amor, mas também sobre guerra e vingança de uma maneira muito única.