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Rio Grande do Sul e Realismo Mágico
Fique sabendo das últimas besteirinhas



Olha se não é o Boletim chegando pra colorir sua caixa de entrada ✨
E cá estamos em junho!
Chegando ao final da nossa estádia em São Leopoldo e Porto Alegre e em junho partimos rumo a terras paranaenses e ao frio de Curitiba.
Nessa boletim temos um texto sobre nossas desventuras e impressões do Rio Grande do Sul, um bucado de groselhas sobre meu gênero literário favorito, pacote de ícones gratuito pra windows e um livro sobre a história do Brasil da perspectiva feminina.
Então bora que vamo→


Zine do Designer Itinerante | Praia Grande -RS

Pacote de ícones Magical Girl para Windows
Eu acho o flat dos eletrônicos atuais muito chatos, então to sempre em busca de jeitos de personalizar minha vida digital. Esse mês eu precisei trocar o meu pobre notebook de 8 anos e em comemoração o Mayke desenhou um pacote de ícones temáticos <3 A estética é uma mistura da pixel art dos ícones do windows 98 com o rosa cheio de corações dos animes de garotas mágicas.
Pra completar baixei algumas skins do Raimeter (um programa que adiciona widgets na tela inicial) temáticos do windows 98, fizemos uma edição pra deixar a skin com as cores dos ícones e o resultado é esse notebook totalmente mágico e colorido (eu to apaixonada socorro).
A melhor parte é que como o pacote é um projeto totalmente pessoal ele disponibilizou pra download gratuito no Itch.io, então quem quiser adicionar é só baixar e se possível marca ele nas redes @mayke.arth

Um mês com cheiro de churrasco em terras Gaúchas
Um pouco das nossas desventuras, dicas, reflexões e groselhas sobre o mês que passamos entre Torres, São Leopoldo, Porto Alegre e Ivoti →
![]() | Junho | 25O mês de Abril do calendário vem com um incentivo pra curtir a chuva.impressão no link→ |
O texto do mês são algumas groselhas sobre meu gênero literário favorito O surrealismo latino do realismo mágico

Eu sempre gostei muito de ler fantasia, mas ironicamente não gostava de grande parte dos livros do gênero. Adorava ler Neil Gaiman (pois é, infelizmente) e Alice no País das Maravilhas, mas nem tanto Tolkien por exemplo. Depois de muito pensar sobre isso acho que eu preferia algo mais surrealista e se possível com um pé na realidade do que grandes aventuras em mundos distantes e grandes reinos mágicos.
Me lembro quando li Lugar Nenhum do Neil Gaiman, o livro se passava na Inglaterra e fala sobre um mundo escondido nos espaços vazios de uma grande cidade. Fiquei fascinada por aquele conceito, vivi minha vida toda em São Paulo e depois de ler passei a perceber como existiam espaços vazios na cidade, “lugares nenhum” que você só vê quando presta atenção. Espaços entre prédios, estações e tuneis abandonados que guardavam um mundo desapercebido do cotidiano.
Acho que foi por essa constante busca por enxergar minha realidade no surrealismo que quando descobri o Realismo Mágico latino-americano foi amor à primeira vista. Histórias que se comunicavam tão profundamente com a América Latina, ao mesmo tempo que exploravam esse surrealismo tão presente na nossa cultura, pareciam ser exatamente o que eu buscava o tempo inteiro e só não sabia.
Realismo Mágico é o nome dado ao estilo literário que combina elementos fantásticos com o cotidiano realista. Nada de grandes mundos fantásticos, mas a magia e o surreal como um ator presente no nosso mundo comum, como apenas mais um dos fatos da vida.
É verdade que diversos livros que eu já havia lido como o próprio Lugar Nenhum, Deuses Americanos, O Perfume ou Kafka teoricamente se encaixam nessa descrição. Porém, a escola que nasce na América Latina explorando essa estética traz outras visões e formas de enxergar o gênero.
A vivência latina ela é intrinsecamente mágica. Juras, promessas, mandingas, contos e lendas fazem parte do cotidiano e da história latino-americana, por isso soa tão natural quando em Cem Anos de Solidão Macondo é invadido pela epidemia do sono ou quando um fantasma se torna parte comum do cotidiano de uma família.
Se parece com algo totalmente plausível, uma história de família passada de geração em geração que você ouviria casualmente da sua avó na cozinha. Ao mesmo tempo essa magia sublime ela é entrecortada pela tragédia e pela violência. Não a violência gráfica de Game of Thrones, mas a violência cotidiana e inesperada ao mesmo tempo, um ar melancólico que cobre aquele mundo com uma aura permanente.
Essas contraposições de sublime e violência é algo muito particular do Realismo Mágico latino-americano e que conversa totalmente com a história dessa parte do mundo. A beleza incomparável que é constantemente assediada, enquanto famílias e nações tentam se erguer e se entender nesse caos.
Ao falar dos meus favoritos não poderia deixar de começar por Cem Anos de Solidão. Um livro que li com meus 20 e poucos anos, mas que continua reverberando, como se minhas experiências trouxessem novas visões e novas interpretações daquela história.
Gabriel Garcia Márquez estabeleceu com sua epopeia de uma família e uma cidade as raízes do que veio a se tornar a estética do Realismo Mágico latino-americano. Através da vivência dos Buendia e de Macondo ele descreve com maestria a história, não apenas da Colômbia, mas da América Latina como um todo. Nossas belezas, guerras estapafúrdias, dominações, construções e reconstruções que se desenrolam em um ciclo vicioso que parece eternamente se repetir, fadados como por uma sina aos mesmos erros.

Já a Chilena Isabel Allende busca outra abordagem em seu A Casa dos Espíritos. Ainda que o livro conte com a mesma aura bela e melancólica, Allende conta a história real do Chile, com suas repercussões sociopolíticos e seus reflexos em uma família cheia de surrealismos. Através dos relatos e histórias de seus integrantes vemos as consequências de atos passados e as sinas que acompanham cada geração.

Nos últimos anos o Brasil tem contado com excelentes expoentes do Realismo Mágico. O mais conhecido Torto Arado de Itamar Vieira explora essa estética incorporando a cultura brasileira de uma maneira muito única. A história nos leva a uma cidade distante, que poderia ser em qualquer interior do país onde conhecemos duas irmãs. O desenvolvimento da vida das duas nos leva pra diferentes histórias e visões de vida e a um entendimento do que é aquele lugar e de como funcionam suas relações de poder. Em Torto Arado a magia vem da religião e da natureza, que são intrínsecas na vida daquele povoado e algo tão real quanto o sol ou a chuva.

Algo que li mais recentemente e me apaixonei foi A Cabeça do Santo de Socorro Acioli, a autora chegou à marca de 200 mil exemplares vendidos, o que em um país onde se lê tão pouco é uma tremenda conquista. No livro seguimos a história de Samuel, um jovem que vaga pelo sertão do Ceara em busca do pai, mas ao procurar abrigo em uma gigante cabeça abandonada de uma antiga estátua descobre a capacidade de ouvir as preces dos moradores da região. O livro segue a estética do gênero, mas adiciona uma camada de humor e ironia que é inegavelmente brasileira.

Escolhi alguns dos meus xodós do Realismo Mágico pra falar por aqui, mas é um gênero extenso e com muito a conhecer. Eu acho essa exploração do fantástico um jeito incrível de se falar do cotidiano, nos depararmos com o incomum nos leva a reconsiderar e a enxergar a própria realidade de uma nova maneira.


![]() | Swing Girls (2004) Eu vivo em uma busca constante por filmes good vibes pra assistir com o Mayke (porque o bonito não gosta de nada dramático/assustador/triste) por isso Swing Girls, um filme japonês de 2004 parecia uma ótima pedida e eu estava certíssima. |

![]() | A mãe da mãe de sua mãe e suas filhas - Mario José SilveiraUm livro que conta a história do Brasil, porém sobre a perspectiva de uma linhagem de mulheres, desde a invasão portuguesa com uma mulher indígena até os tempos atuais. |