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Curitiba e as belezas cotidianas

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E cá estamos em Agosto!

Esse mês vos escrevo da cidade de Nova Lima em Minas Gerais, cansada de subir ladeira, mas comendo quantidades não saudáveis de queijo e doce de leite.

Na Boletim de Agosto temos texto duplo com um post sobre o mês congelante que passamos no Paraná e várias groselhas sobre galerias de arte e belezas cotidianas.

Nas indicações um livro de ficção cientifica misturada com autobiografia de guerra e jazz fusion japonês nostálgico.

Bora que vamo

rolando por aqui
lá fora

Um pouco de caminhada, um pouco de vetor

paraná capa

Um mês gelado no Paraná

Seguindo a série onde falo das cidades em que passei vivendo como nômade digital pelo Brasil.
Esse mês nossas desventuras em Curitiba, Morretes e Antonina →
agosto calendário

Agosto | 25

O mês de Agosto vem com uma pausa pra comer um pedaço de bolo e tomar um chá da tarde.

A versão wallpaper ou o calendário completo pra impressão no link→
groselhas

O texto do mês são groselhas que venho pensando sobre a arte dos detalhes e o mundo egocêntrico das galerias.
A Arte nas Frestas do Cotidiano

capa arte

Talvez eu não goste tanto assim de galerias de arte. Ok, isso pode soar estranho e levemente sensacionalista, principalmente levando em conta a quantidade de museus que eu visito, porém preciso explicar meu ponto.

No geral, mas principalmente durante o mochilão, nós frequentamos muitos museus. A cada nova cidade que chegamos eu faço uma pesquisa de lugares pra visitar e grande parte dessa lista costuma ser composta por museus e outros roles culturais.

É claro que é sempre um passeio divertido. Nos locais históricos adoro ler as placas e admirar artefatos antigos, aprender mais sobre a cultura do lugar. Nos museus naturalistas sou fascinada pelos fósseis e coleções entomológicas, adoro tirar foto e desenhar os animais mais peculiares. Porém, em galerias (principalmente naquelas voltadas à arte mais acadêmica e contemporânea) é legal visitar e... meio que é isso.

Eu tenho algum nível (não muito alto) de entendimento de arte, estudei sobre durante a faculdade, fiz cursos, li livros, basicamente fiz minha lição de casa. Ainda assim grande parte das minhas experiências em galerias de arte não são das mais positivas. É claro que muitas das obras presentes são interessantes, me trazem inspirações e reflexões (não todas), mas ao mesmo tempo a pompa envolvida nesses ambientes, o ar culto, o vinho e a suposta intelectualidade intrínseca em ser um suposto conhecedor de arte, me tira muito da imersão que a obra traria.

Eu acredito na arte como algo natural e que deve estar presente no cotidiano, na arte pública e acessível, talvez por conta dessa filosofia as galerias me pareçam um tanto monótonas. Amo descobrir arte escondida nas ruas, nos pacotes de salgadinhos duvidosos, em placas feitas a mão e nos grafites replicados pela cidade em lugares impossíveis.

placa olinda

Em algum lugar de Olinda

Eu entendo o papel da curadoria e das galerias na preservação e valorização cultural, sei que essas instituições fazem um trabalho de extrema importância social. Porém, como indivíduo, sinto que tirar essas manifestações do cotidiano e colocar em um pedestal bem iluminado tiram um pouco da magia de encontrá-las escondidas nas frestas das cidades.

Essas são algumas groselhas que rondam a minha cabeça há tempos, mas especificamente nesse último mês vivi muito dessa dicotomia.

Nós passamos julho em Minas Gerais, na cidade de Nova Lima, região metropolitana de Belo Horizonte. Eu nunca tinha pensado em visitar Nova Lima, o que nos trouxe até aqui foi um anúncio de Airbnb mais em conta e com uma belíssima vista das montanhas mineiras.

Uma das metas de lugares para ir durante a nossa passagem por Minas Gerais foi o Inhotim, o maior museu a céu aberto da América Latina. Eu sonhava há anos em conhecer o lugar e, por maior que tenha sido nossa saga para chegar lá de ônibus, não me decepcionei. O museu é gigantesco, com dezenas de galerias, trilhas, lagos e jardins, tudo lá dentro tem uma aura mágica e surreal.

Mas a realidade é que nós praticamente não entramos nas galerias em si. Fomos no dia gratuito e tudo estava cheio e com fila, mas não digo isso como um lamento ou reclamação. Por mais interessantes que parecessem as obras, pra mim elas ficavam pálidas frente as paisagens naturais ao redor. Todo o caos de pessoas ávidas pela foto perfeita em frente a obra famosa me fazia dar meia volta e entrar nas trilhas vazias repletas de belezas completamente desapercebidas. Isso, mais o fato que é impossível conhecer todo o espaço em um único dia, me fez sair de lá com uma galeria cheia de fotos de plantas, pássaros e reflexos solares em prédios peculiares.

fotos inhotim

Ao mesmo tempo, enquanto estamos por aqui o CURA, uma iniciativa de arte urbana, está pintando um gigantesco Macro Mural (um projeto imenso de pintura que ocupa vários prédios e casas) na cidade de Nova Lima próximo onde estamos hospedados. Essa iniciativa tem movimentado a cidade, no ônibus ouvimos duas senhoras conversavam sobre a beleza da pintura, em estarem chateadas por não ter chegado até a casa delas, mas que adorariam um grafite em suas fachadas.

mural nova lima

O Macro Mural do Cura em processo

Essas duas experiências totalmente dispares, a visita a um museu internacionalmente reconhecido e a imersão de uma cidade em um projeto de arte pública, só ressaltaram ainda mais minha percepção sobre a arte cotidiana.

É claro que o Inhotim e várias outras galerias são incríveis e merecem a visita (quando por um valor aceitável, porque do contrário é apenas elitismo), porém ao menos na minha percepção particular e talvez excessivamente peculiar, o que há de mais fantástico e inspirador se encontra em lugares menos óbvios. Nas conversas de ônibus, nos adesivos colados pela cidade, nos atos de carinho banais e na natureza, seja na construída pra nossa admiração, mas principalmente na espontânea.

Existe beleza em todo lugar.

o que ando
ouvindo
mint jams

Casiopea - Mint Jams

Recentemente nas minhas pesquisas por músicas eu fui parar no álbum Mint Jams da banda japonesa de Jazz Fusion Casiopea e automaticamente adorei o som. Reconheci em algumas faixas os samples de DJs como o Macross 82-99, porém mesmo quem não conhece City Pop provavelmente vai se identificar com Casiopea se já tiver jogado Sonic.

Casiopea foi não somente uma inspiração, mas autores de algumas das mais famosas músicas de joguinhos da Sega e companhia.

Essa nostalgia automática no som do grupo é o ponto de partida do vídeo do canal T2Norway que fala sobre as inspirações e a história dessa banda dos anos 70 que existe, faz shows e se reinventa até os dias atuais.
lendo
matadouro 5
Matadouro 5 - Kurt Vonnegut
Esse foi um livro que passei inúmeras vezes na livraria e por alguma razão nunca me chamou a atenção, embora a edição brasileira seja lindíssima. Foi apenas com uma resenha falando sobre o estilo único do autor que decidi dar uma chance a obra de Kurt Vonnegut e não me decepcionei.

Matadouro 5 é uma obra meio ficção cientifica, meio romance, meio autobiográfica. Ela narra de forma caótica e extremamente irônica a vida de Billy Pilgrim, um jovem soldado que durante a segunda guerra foi capturado como prisioneiro pelos alemães, mas que sobrevive e tem sua vida alterada quando é sequestrado por uma raça alienígena e a partir daí começa a enxergar a realidade do tempo, vivendo sua trajetória de maneira não linear.  

O próprio autor lutou na segunda guerra e presenciou o bombardeio de Dresden. Ele usa suas próprias experiências pra contar essa história cheia de surrealidades sobre a crueldade da guerra. Billy viaja por suas experiências de vida, pula de seus dias como prisioneiro de guerra, à sua vida de luxo como optometrista, passando pelos dias de sequestro pelos alienígenas e a decisão em abrir ao mundo sua visão holística do tempo.

Vonnegut utiliza a ficção cientifica como meio pra falar sobre os absurdos do mundo real, colocando em perspectiva o imaginário com a crueza da realidade, encarando os próprios traumas com sarcasmo e incredulidade.