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As intercorrências da vida digital em tempos de smartphone

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E cá estamos em Setembro!

Esse mês vos falo da cidade de Teresópolis-RJ, rodeada pela Mata Atlântica cuja umidade e exuberância de pássaros e insetos eu já estava com saudades.

Nossa temporada em Minas Gerais foi tão caótica que ainda não consegui terminar o texto do diário de viagem talvez eu nunca termine. Enquanto isso esse mês temos mais um texto da categoria de Retrofuturismos, dessa vez falando sobre como nossas relações com o mundo digital mudou com a chegada dos smartphones.  

Nas indicações temos um dos meus podcasts favoritos e a trilha sonora do Windows XP pra combinar com o clima do post.

Bora que vamo

rolando por aqui
lumiar

Clarear de vez, Lumiar

setembro

Setembro | 25

O mês de Setembro chega com as chuvas (ao menos na Mata Atlântica) o que significa época de cogumelos!

A versão wallpaper ou o calendário completo pra
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groselhas

O texto do mês é uma continuação não oficial do “Antigamente a Internet era mais mágica?” e segue na mesma linha de groselhas sobre nossa relação com a vida digital ao longo dos anos.
As intercorrências da vida digital em tempos de smartphone

post capa

Recentemente eu e o Mayke estávamos discutindo sobre internet e a relação dos mais jovens com ela. Nós, com nossos quase trinta anos, usamos computador desde cedo, mas redes sociais e smartphones só começaram a fazer parte de forma ativa de nossas vidas no final da adolescência.

O primeiro computador da minha casa chegou por volta de 2003, eu tinha cinco anos e cresci acessando blogs, sites de jogos, fóruns, o orkut e fazendo desenhos no Paint. Ainda assim o PC era uma entidade que ficava na sala de casa e a internet discada limitada, a maior parte do tempo ainda era passado em outras atividades, andando de patins, subindo em árvore e lendo. E aqui não falo de um jeito nostálgico, mas como uma reflexão de como esses momentos fora do computador foram importantes pra minha formação física e psicológica.


gif paciencia

Hoje eu sou sem dúvida cronicamente online. Trabalho com o computador, me divirto nele e passo incontáveis horas rodando no celular. Eu como adulta, com meu cérebro razoavelmente formado, já tenho dificuldade em me manter online de maneira saudável, usando meu tempo na internet de uma forma construtiva e equilibrando com atividades offline. Por isso penso muito em quem já foi inserido nesse mundo digital através do caos das redes sociais e não teve essa experiência na internet de conexão lenta, quando ainda havia algum espaço pro offline nas nossas vidas.

É verdade que desde a época de Platão já se diz que a juventude está perdida, nos anos 1960 se anunciava que a televisão iria derreter o cérebro dos jovens, e ainda assim o mundo segue, não na melhor forma, mas segue. Porém, no caso dos smartphones eu acho difícil manter esse distanciamento histórico.

Diferentemente de outras mídias, redes sociais foram projetadas e pensadas pra nos viciar, tal qual uma máquina de cassino. Cada interface, propaganda, post e vídeo que aparecem na tela são pensados pra que o usuário fique o maior tempo possível ali dentro, consumindo e interagindo.

Durante a infância e adolescência a mente humana cria conceitos bases onde a mente se desenvolve (algo parecido ao conceito de memórias chave do Divertidamente) o que acontece quando essas memórias chave estão atreladas ao excesso de informação, marketing agressivo, dopamina fácil, conteúdo autocentrado e feed infinito das redes sociais?

O algoritmo cria uma realidade alimentada pelo conteúdo que se interage, colocar alguém sem senso crítico, em uma idade de formação e sem nenhum tipo de educação quanto aquela ferramenta, sendo exposto na maior parte do seu tempo é o maior experimento de psicologia humana já feito e nós não temos ideia do que isso vai causar.  

Toda essa discussão se torna ainda mais complicada colocando uma perspectiva de classe. A internet nasce como essa ferramenta dentro de universidades e com esse conceito idealista de ser libertadora e democrática. Eu realmente acredito que por um tempo ela foi isso, sim computadores eram caros, mas se tinham lan houses e a pirataria democratizou imensamente o acesso a cultura durante os anos 2000. Muito dos criadores, artistas e divulgadores científicos que temos hoje muito provavelmente não existiriam sem a pirataria massificada que aconteceu com a chegada da internet no Brasil.

E por mais que hoje ela ainda cumpra de certa forma esse papel de democratizar, sinto que o Smartphone foi o ponto de virada de chave na idealização de uma internet livre. Por mais que ele tenha a proposta inicial de ser mais acessível financeiramente e de simplificar interfaces, o que o tornava uma porta de entrada mais intuitiva ao mundo digital, a realidade é que o smartphone limita e muito as possibilidades do usuário.

O celular foi desenvolvido pra tornar o usuário passivo, toda a interface é pensada pra consumir conteúdo e não pesquisar e guardar informação. Infelizmente quem teve seu letramento digital feito através do smartphone vai ter muita dificuldade em entender esse conceito de ser um agente ativo na internet, de pesquisar, escolher o que consumir, descobrir coisas novas e montar um acervo pessoal com as suas referências.

A internet do celular é feita por plataformas fechadas e controlada por grandes corporações. Enquanto no computador você é um fator de decisão naquilo que consome e produz.

Eu me considero com sorte de ter conhecido a internet em tempos pré smartphone. Ter esse acesso limitado a uma internet mais saudável trouxe outro tipo de visão sobre como lidar com a ela, acredito que esse é um sentimento compartilhado com pessoas com o mesmo tipo de vivência.

Conheci a internet como uma ferramenta de conexão e pesquisa, os fóruns educavam que má conduta seria punida com banimento, me perdi as 3 da manhã em pesquisas sobre assuntos hiper específicos com 10 abas abertas e tive acesso a cabeça de tanta gente através de seus blogs pessoais.

Essa formação fez total diferença na forma como lido com a internet hoje em dia. A todo momento é preciso lembrar que nada daquilo é real, cada like, reação ou comentário genérico são uma abstração. Minhas horas de redes sociais só valem a pena se elas trouxerem algo pra minha vida, lugares pra conhecer, discussões com profundidade, conexões reais com outras pessoas, receitas, inspiração no meu trabalho ou mesmo algo engraçado pra compartilhar.

 A internet é um meio pra tornar as nossas vidas reais mais interessantes e nunca o contrário.

o que ando
ouvindo
playlist

2000s computer room 🌐 🐠 𝘸𝘪𝘯𝘥𝘰𝘸𝘴 𝘹𝘱 𝘯𝘰𝘴𝘵𝘢𝘭𝘨𝘪𝘢𝘤𝘰𝘳𝘦/𝘧𝘳𝘶𝘵𝘪𝘨𝘦𝘳 𝘢𝘦𝘳𝘰 𝘮𝘶𝘴𝘪𝘤 𝘢𝘯𝘥 𝘢𝘮𝘣𝘪𝘦𝘯𝘤𝘦 🎧

Uma playlist de lo-fi com sons de Windows XP e jogos de baixíssima qualidade rodando de fundo. Pra ler o texto do mês se sentindo mexendo em um computador com tela de tubo, em uma mesa bege com uma internet de péssima qualidade.
naruhodo
Podcast Naruhodo
O Groselhas é um blog feito totalmente dos surtos da minha cabeça, mas esporadicamente eu trago nele informações relevantes. Parte da discussão desse post veio do podcast Naruhodo, eu indico o podcast como um todo, é uma forma muito divertida e acessível de aprender mais sobre ciência.
Porém, se quiserem saber mais, especificamente sobre redes sociais e desenvolvimento humano indico os EPs #313 “Filtros de fotos em redes sociais geram problemas de autoimagem?” e o #208 / #209 “Qual o efeito da publicidade sobre as crianças?”